terça-feira, 15 de junho de 2010

Renascimento de um ente querido: MEU FILHO!


De vez em quando recebemos a grata noticia do nascimento de alguém, um neto, filho de um conhecido, de um amigo, sobrinho, enfim sempre esperamos ver como será o rostinho, a cor dos olhos, com quem se parece mais. Sempre uma coisinha ou outra nos faz lembrar alguém da família e isso nos deixa com aquela sensação de paz que só um novo ser é capaz de nos transmitir. Durante 89 dias eu também esperei com uma plenitude inexplicável o renascer de meu filho, e foi uma gestação forte, arriscada,corajosa, de esperança, angustia, ansiedade, mas nunca de desespero. Nos primeiros 11 ou 12 dias Deus me levou para um mundo à parte, longe dos medos, das raivas, das horas, perdi o tempo, já não me preocupava com datas nem horários. Noites de sono, dos momentos de dor extrema, momentos em que eu queria entrar dentro do Gui ou pedir para que Deus tivesse misericórdia e se quisesse, que o levasse daqui, para não sofrer tanto. Foram só alguns dias assim, depois me encontrei com o silencio, foi quando despertei para a segurança DIVINA e entreguei meu filho, sim porque eu já não conseguia enfrentar tanta dor. Durante esse percursos sombrio, fiz muitos amigos, que estavam ali na sala de espera da UTI, nos consolávamos, nos entregávamos a um abraço para sentirmos um pouco de aconchego. Gente do Brasil inteiro naqueles instantes de espera,de uma nova e duvidosa noticia. Alguns se despediram felizes porém outros aos prantos, mas nos fortificamos na união da solidariedade, sempre falávamos de Deus, Jesus, milagres, morte e vida. Conheci um mundo muito triste, mas muito forte e poderoso, enfermeiros dedicados que passam as noites cuidando (eles choram também!!), conheci médicos incríveis ( eles se cansam, riem e soluçam quando choram, nem sempre conseguem salvar as vidas que lhes são entregues). Encontrei faxineiras, copeiras, ajudantes, manobristas, ascensoristas, que dizem bom dia com um sorriso no rosto! Todas as pessoas da área médica que atenderam o Gui o chamavam pelo nome, pediam licença quando precisavam cuidar dele, mesmo quando ele não os ouvia, dias em que estava num outro mundo (coma induzido ou com doses de medicações que o tiravam deste mundo). A vida fora do Hospital continuava, amigos sempre pedindo noticias, pessoas queridas que reservaram momentos e dias para rezar, me fazer companhia, me dar forças. Obrigada a todos vocês! Com certeza a nossa união nas orações foi muito importante para o reestabelecimento dele e eu pude sentir realmente as pessoas de meu lado, nunca me senti desamparada, nem sozinha pois também tinha Deus dentro de mim. A caridade de muitos ficou marcada dentro de mim. Hoje, depois de uma longa e difícil jornada, meu filho dorme em nosso apartamento, no quarto ao lado, posso ouvir a respiração dele daqui, e sei que nossas vidas é feita de amigos verdadeiros de gente corajosa e de FÉ! A família reestruturou a vida de meu filho, deu-lhe carinho e amor. Deus deu-lhe a salvação!
O Gui renasceu muito melhor que antes.
Agora é esperar mais um tempo, para que o restabelecmento venha por inteiro e enfim seja concluído.
Eu também renasci para um mundo mais bonito, sem egoísmos, nem vaidades ou orgulhos tolos. Acho que consegui querer ser melhor amanhã do que fui hoje, e percebi que ser mãe é mesmo padecer no paraíso...
Amo vocês!
Silvana

sábado, 12 de junho de 2010

Black out

Estou no escuro. Puro escuro.
Escrever sem ver...
Imaginar as linhas retas
Seguir em frente apalpando.
Quantos estão agora assim?
Tentando ver, abrir os olhos. Preciso rezar.
É fácil rezar, fácil me conectar com Deus.
Black out.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Depoimento

Percebi pela manhã, numa manhã chuvosa de outubro de 2009 que a liberdade é só! Só como a morte. Ouvia o tempo como respiração, que fugia, escapava. Precária vida! Numa luta corpo a corpo com o mundo que não consiguia ver e entender, me lancei num momento curioso e cego, beirando a loucura. Frio. Entrei num espaço estranho, como se estivesse no útero que me fez. Fui anotando tudo, escrevendo para estampar minha vida com letras, palavras.
Perplexa eu via a minha visão dela. A vida.
Sem saida entrei no seu âmago, percorri artérias, músculos, ossos, membranas, células, fui junto com Deus, de mãos dadas, como numa onda reconstrindo tudo, sua respiração, seu coração, seu cérebro espatifado, convulsionado. Decidi renascer voce e não descansei um segundo.
Removemos seus edemas, seu espírito. Pedi socorro, por pura e simples inexperiência. Inexperiência por sofrer o suplício da dor perigosa, uma trave transpassada na alma, invisível, insensível. Aí, de repente ALGUEM chega estendendo a mão silenciosa, trazendo sustentação, aconchego. Deus!!Eu sentia que não estava só. Permaneci no extremo do mundo perplexo. Como se fosse susto, ou espanto, fiquei muda e quieta. Leve lucidez de um mundo à parte. Loucura útil. Um mundo onde o sofrimento, o desencanto e o medo são flashes, luminosos mundos. Um mundo que se inventa para viver. Coseguir viver. Não me esforcei para alcançar esse espaço fictício, Deus fez isso, faz. Ele nos leva embora, nos deixa plena, planando num horizonte sem fim. Pois o sofrimento não tem tamanho, é insuportável, insustentável, absurda dor.
Hoje quero paz, riso, leveza, mas sei que a qualquer momento , numa lembrança, as lágrimas seguramente virão.
NOTA: Nada será esquecido, mesmo que já os tenha perdoado -os tres jovens agressores- farão com que ao me lembrar daqueles momentos, eu me torne incapaz de não chorar. Tornou-se parte de mim aqueles meses de dor, mas os quero mais! No entanto, tenho que confessar: eu precisava mesmo era dar, em cada um, só um "belo" tapa na cara. Depois olhar dentro de cada um e desejar que vivam muito, muitos anos e não se esqueçam de mim. Pena que a verdade seja outra, que justiça não tarda porque falta e não existe, que só mesmo a mão de Deus pesará sobre eles e elas...

tenho vontades

tenho vontades...
lambuzar o rosto com manga e melancia
deixar o caldo escorrer pelos cotovelos
matar o pernilongo no tapa
cana cortada na hora
sujar as unhas com terra
vontades aos montes
deitar no chão
ver o céu de dia e de noite
com sol ou chuva
claro ou escuro
tenho vontades...
pintar os cabelos de roxo e
nem dar bola pra roupa que caisse em mim
descalça e sem pressa
sem medo sem medo sem medo.

sem título

gestos
ouvir
palavras substituidas
por sentir
por tocar
pelo entender
pelo segredo
coisas raras.

Ultimo dia

Acompanho o ultimo dia
Todos cantam
Celebram
Eu estanco na tela protetora da varanda
Também sinto o dever de celebrar meu desespero
Chamam pelo novo ano
Eu berro pelo meu filho
Esmurro o vento e a chuva
Alguns me ouvem
Quando digo:"Quero meu filho
Não o ano novo..."
Faz-se um silêncio. Silêncio.
Então num momento milagroso de solidariedade
Todos gritam:
"Volte menino!!!
Sua mãe espera voce
Hoje é o ultimo dia."