quinta-feira, 8 de julho de 2010

Partimos

O relato martiriza,
É como se eu estivesse nua.
Despojada de todos os sentimentos. Todos.
Porque?
Por que nos indagamos?
Entre perplexos e crus
Desacreditamos desiludidos
Fora do mundo.
Tentamos nos agarrar aos fiapos
Tão ínfimos e sutis da sobriedade
Íntimos,
Uma vida.
O lento passar de uma vida.
Abraço-te, recebendo nada.
Nem acolhida nem sofrida
Me desfaço
sinto que desfaleço
Saio de tudo, de mim.
Paro de relatar.
Entre o sufocar e o desgarrar
nos vemos
incrédulos
Desaquecidos
Sós.
Partimos.
Caminhos opostos
Olhamos cada passo dado
Cada isntante de loucura
Devastados pelo que vivemos
E não vivemos.
Enfim
Partimos.

Morreria

Se dependesse de mim
Escolher como partir...
Partiria ou morreria de susto!
Sem rasuras ou infecção,
Morreria de paixão!
Escolheria cores azuis como hortênsias no frio.
Poderia até ser de medo!
Mas só se fosse o medo de não amar,
Coisa que suponho impossível!
Se dependesse de mim,
eu partiria sem nenhuma frustação,
Nem rancor ou ressentimento
Morreria de rir de mim e de tudo.
Até das minhas histórias e de minhas poesias inúteis!
Morreria com absoluta certeza
De que morrer, traz momentos evasivos e indizíveis...
Morreria de alegria,
Se transpusesse o momento indevassável
De abraçar voce.
Ver voce.
Morreria de rir de tanto dançar abraçada ao meu travesseiro.
Se dependesse de mim
Morreria sem ir, mas vendo a paz!

Mulheres

Mulheres regem o mundo
Geram
Procriam
Lutam
Consomem-se
Perdem-se
Juntam-se
Fortalecem-se
A grande humanidade de mulheres!
Tempo doente
Definhando
Alma
Esteio
Vazio
Mulheres sozinhas
Milhares de mulheres sós!
Somam-se
Compartilham
Respeitam o inexpremível
Recusam gestos economicos e
Gestos de ternura
Essa inutilidade de tristeza
Essa contagiante lucidez
Poética.
Mulheres.

Aluado

O cismo derruba barreiras.
Criada a fera, lança-se no chão de poeira.
Vertigem sente só na lua!
No vento sente um abafado coração.
O hálito do sol.
Dos olhos lacrimejam saudades.
Orvalho na pedra seca, que logo some engolido pelas frestas da velhice.
Batidas de tambores lúdicos
Inflam os poros do tempo
E tudo se desfaz numa mágica insana.
Delírios vagos somam rostos,
Espreitam,
Vozes,
Músicas,
Imagens do passado.

Intuição

Olhar que me persegue
Mira imóvel
Translúcido
Esconde um sonho.
Sorriso e receio
Consome-se no vazio
Escarcéu amável
Intui a incapacidade
Inconsciente que se veste de frio.
De gelo.
Esse olhar que me persegue
Atinge o ápice a caminho do sol
Intuição de dor e perda.

Paris

Andei por lá,
Adorei as cores
Vários azuis
Telhados e céus
Menos as pessoas.
Elas eram transparentes
Eu também.
Ruas, encruzilhadas,
Sena, Notre Dame,
Caminhos e chuva,
tudo úmido, molhado.
Meu rosto também.
Da torre Eifel eu vi
Sonhos perdidos
Feito bolas de sabão.
Encontrei luzes que eram minhas
E desejos de beijos na boca.
Vi tudo enfeitado
Clareado como o Lido.
Descobri que não podia falar
Era outro idioma
Eu não sabia nem entendia
Nem pude dizer o quanto
Fui feliz nem quanto eu ri.
Nem que o champagne era de fato frances.
Fiquei calada,mas sorri muito.
Paris me calou.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Pássaro Migrante

Sou voador
Pássaro que canta
Lá em cima
Em céu aberto
Vou sempre cantando
Vou sempre sonhando
Em ter o sol para abraçar
Em ter meus filhos-passarada sobre a brisa
Plainando rente às águas
Deste rio da vida
Vidas claras escuras obscuras
Sou pássaro mutante
Migrante lutador
Vou abrindo o vento com meu peito
Vou pensando em tudo que ficou.
Se fiz bem feito.
E o mal não contagia
Me transmite essa euforia
E meu canto solitário
Do fundo de mim
Não me permite ficar...
Sou voador.

"Triste"

Por que estás triste,
Se tens a vida? A VIDA!
Se podes caminhar sem ser guiada
Se sorris ao ouvir música
Se triste é aquele que não tem lembranças?

Por que estarias triste?
Se triste é quem se engana
Se maltrata ou se esfacela?

Por que triste?
Se gerastes filhos e a luz os faz brilhar
Se podes olhar o sol e senti-lo na pele?

Por que estarias triste?
Se triste foram os minutos passados
E o passado é ido, acabado, antigo?

Por que triste?
Se podes chorar de contentamento
Se sentes a vida do outro se refazendo
E o mundo todo escapa e nada mais interessa?

Por que estarias triste?
Se o que tens é claro e lindo?
Se Deus existe de verdade - é sério! Existe!
Se podes sentir Seu abraço
em qualquer instante?

Por que triste?
Ah! Não! Não sejas triste.
Não mais.

Sem título

Impera a abstinência.
Ausência de rostos
Restos de lembranças.
Vagas surpresas e quietude
Cheiros secos etéreos me invadem.
O céu de chuva
Cai molhando o que visto
Me limpa.
Percorro caminhos interrompidos.
Fragmentada a minha alma
Se esmera,me espreita
E invade meu corpo.
Me lança no fundo
Num abismo de risos.
Sonhos gentis
Anjos luminosos
Abraços mornos e quietos.
Impera o silêncio
Abstinência do mau
Sal da noite
Sossêgo da paz.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Renascimento de um ente querido: MEU FILHO!


De vez em quando recebemos a grata noticia do nascimento de alguém, um neto, filho de um conhecido, de um amigo, sobrinho, enfim sempre esperamos ver como será o rostinho, a cor dos olhos, com quem se parece mais. Sempre uma coisinha ou outra nos faz lembrar alguém da família e isso nos deixa com aquela sensação de paz que só um novo ser é capaz de nos transmitir. Durante 89 dias eu também esperei com uma plenitude inexplicável o renascer de meu filho, e foi uma gestação forte, arriscada,corajosa, de esperança, angustia, ansiedade, mas nunca de desespero. Nos primeiros 11 ou 12 dias Deus me levou para um mundo à parte, longe dos medos, das raivas, das horas, perdi o tempo, já não me preocupava com datas nem horários. Noites de sono, dos momentos de dor extrema, momentos em que eu queria entrar dentro do Gui ou pedir para que Deus tivesse misericórdia e se quisesse, que o levasse daqui, para não sofrer tanto. Foram só alguns dias assim, depois me encontrei com o silencio, foi quando despertei para a segurança DIVINA e entreguei meu filho, sim porque eu já não conseguia enfrentar tanta dor. Durante esse percursos sombrio, fiz muitos amigos, que estavam ali na sala de espera da UTI, nos consolávamos, nos entregávamos a um abraço para sentirmos um pouco de aconchego. Gente do Brasil inteiro naqueles instantes de espera,de uma nova e duvidosa noticia. Alguns se despediram felizes porém outros aos prantos, mas nos fortificamos na união da solidariedade, sempre falávamos de Deus, Jesus, milagres, morte e vida. Conheci um mundo muito triste, mas muito forte e poderoso, enfermeiros dedicados que passam as noites cuidando (eles choram também!!), conheci médicos incríveis ( eles se cansam, riem e soluçam quando choram, nem sempre conseguem salvar as vidas que lhes são entregues). Encontrei faxineiras, copeiras, ajudantes, manobristas, ascensoristas, que dizem bom dia com um sorriso no rosto! Todas as pessoas da área médica que atenderam o Gui o chamavam pelo nome, pediam licença quando precisavam cuidar dele, mesmo quando ele não os ouvia, dias em que estava num outro mundo (coma induzido ou com doses de medicações que o tiravam deste mundo). A vida fora do Hospital continuava, amigos sempre pedindo noticias, pessoas queridas que reservaram momentos e dias para rezar, me fazer companhia, me dar forças. Obrigada a todos vocês! Com certeza a nossa união nas orações foi muito importante para o reestabelecimento dele e eu pude sentir realmente as pessoas de meu lado, nunca me senti desamparada, nem sozinha pois também tinha Deus dentro de mim. A caridade de muitos ficou marcada dentro de mim. Hoje, depois de uma longa e difícil jornada, meu filho dorme em nosso apartamento, no quarto ao lado, posso ouvir a respiração dele daqui, e sei que nossas vidas é feita de amigos verdadeiros de gente corajosa e de FÉ! A família reestruturou a vida de meu filho, deu-lhe carinho e amor. Deus deu-lhe a salvação!
O Gui renasceu muito melhor que antes.
Agora é esperar mais um tempo, para que o restabelecmento venha por inteiro e enfim seja concluído.
Eu também renasci para um mundo mais bonito, sem egoísmos, nem vaidades ou orgulhos tolos. Acho que consegui querer ser melhor amanhã do que fui hoje, e percebi que ser mãe é mesmo padecer no paraíso...
Amo vocês!
Silvana

sábado, 12 de junho de 2010

Black out

Estou no escuro. Puro escuro.
Escrever sem ver...
Imaginar as linhas retas
Seguir em frente apalpando.
Quantos estão agora assim?
Tentando ver, abrir os olhos. Preciso rezar.
É fácil rezar, fácil me conectar com Deus.
Black out.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Depoimento

Percebi pela manhã, numa manhã chuvosa de outubro de 2009 que a liberdade é só! Só como a morte. Ouvia o tempo como respiração, que fugia, escapava. Precária vida! Numa luta corpo a corpo com o mundo que não consiguia ver e entender, me lancei num momento curioso e cego, beirando a loucura. Frio. Entrei num espaço estranho, como se estivesse no útero que me fez. Fui anotando tudo, escrevendo para estampar minha vida com letras, palavras.
Perplexa eu via a minha visão dela. A vida.
Sem saida entrei no seu âmago, percorri artérias, músculos, ossos, membranas, células, fui junto com Deus, de mãos dadas, como numa onda reconstrindo tudo, sua respiração, seu coração, seu cérebro espatifado, convulsionado. Decidi renascer voce e não descansei um segundo.
Removemos seus edemas, seu espírito. Pedi socorro, por pura e simples inexperiência. Inexperiência por sofrer o suplício da dor perigosa, uma trave transpassada na alma, invisível, insensível. Aí, de repente ALGUEM chega estendendo a mão silenciosa, trazendo sustentação, aconchego. Deus!!Eu sentia que não estava só. Permaneci no extremo do mundo perplexo. Como se fosse susto, ou espanto, fiquei muda e quieta. Leve lucidez de um mundo à parte. Loucura útil. Um mundo onde o sofrimento, o desencanto e o medo são flashes, luminosos mundos. Um mundo que se inventa para viver. Coseguir viver. Não me esforcei para alcançar esse espaço fictício, Deus fez isso, faz. Ele nos leva embora, nos deixa plena, planando num horizonte sem fim. Pois o sofrimento não tem tamanho, é insuportável, insustentável, absurda dor.
Hoje quero paz, riso, leveza, mas sei que a qualquer momento , numa lembrança, as lágrimas seguramente virão.
NOTA: Nada será esquecido, mesmo que já os tenha perdoado -os tres jovens agressores- farão com que ao me lembrar daqueles momentos, eu me torne incapaz de não chorar. Tornou-se parte de mim aqueles meses de dor, mas os quero mais! No entanto, tenho que confessar: eu precisava mesmo era dar, em cada um, só um "belo" tapa na cara. Depois olhar dentro de cada um e desejar que vivam muito, muitos anos e não se esqueçam de mim. Pena que a verdade seja outra, que justiça não tarda porque falta e não existe, que só mesmo a mão de Deus pesará sobre eles e elas...

tenho vontades

tenho vontades...
lambuzar o rosto com manga e melancia
deixar o caldo escorrer pelos cotovelos
matar o pernilongo no tapa
cana cortada na hora
sujar as unhas com terra
vontades aos montes
deitar no chão
ver o céu de dia e de noite
com sol ou chuva
claro ou escuro
tenho vontades...
pintar os cabelos de roxo e
nem dar bola pra roupa que caisse em mim
descalça e sem pressa
sem medo sem medo sem medo.

sem título

gestos
ouvir
palavras substituidas
por sentir
por tocar
pelo entender
pelo segredo
coisas raras.

Ultimo dia

Acompanho o ultimo dia
Todos cantam
Celebram
Eu estanco na tela protetora da varanda
Também sinto o dever de celebrar meu desespero
Chamam pelo novo ano
Eu berro pelo meu filho
Esmurro o vento e a chuva
Alguns me ouvem
Quando digo:"Quero meu filho
Não o ano novo..."
Faz-se um silêncio. Silêncio.
Então num momento milagroso de solidariedade
Todos gritam:
"Volte menino!!!
Sua mãe espera voce
Hoje é o ultimo dia."